Mulheres cientistas amazônidas impulsionam a pesquisa e a inovação na região

11/02/2025 10:00

Por Laura Guido e Samantha Mendes, estagiárias de jornalismo, com supervisão de Carla Fischer

O Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, celebrado em 11 de fevereiro, foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015 com o objetivo de reconhecer e promover o papel das mulheres na produção científica. A data também busca combater a desigualdade histórica de gênero no meio acadêmico e científico. Segundo dados da UNESCO, apenas 33% dos pesquisadores no mundo são mulheres, evidenciando o desafio da inclusão feminina na ciência.

Na Amazônia, a presença feminina na pesquisa científica é essencial para a compreensão das dinâmicas socioambientais, da biodiversidade e das populações tradicionais da região. Para ampliar essa visibilidade, o Amazônia Vox reuniu pesquisadoras amazônidas que têm contribuído significativamente para a ciência e a realidade local.

A ciência como ferramenta de luta

Entre essas cientistas está Ariana Gomes, do Maranhão. Integrante do coletivo de quebradeiras de coco babaçu, ela buscou na ciência um meio para documentar e fortalecer a luta de seu povo. "A pesquisa revela a necessidade urgente de demarcação desse território multiétnico pela FUNAI, para que as quebradeiras de coco indígenas, bem como todo o povo, consigam reproduzir seus modos de vida social, cultural, econômico e ambiental. São elas guardiãs do território, dos bens comuns e da sociobiodiversidade", destaca Ariana.

Reconhecendo a importância dessas cientistas, o banco de Fontes de Conhecimento do Amazônia Vox apresenta uma lista com pesquisadoras de alguns estados da Amazônia Legal, que atuam em diferentes áreas do conhecimento. O objetivo é dar visibilidade ao trabalho dessas cientistas, promover o protagonismo feminino na ciência e inspirar futuras gerações de meninas a ingressar no mundo da pesquisa acadêmica.


Pesquisadoras amazônidas que fazem a diferença

Amazonas - Maria do Perpétuo Socorro Rodrigues Chaves - Professora Titular da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), possui graduação em Serviço Social, mestrado em Sociologia Rural pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e doutorado em Política Científica e Tecnológica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Suas pesquisas se concentram em povos tradicionais, sustentabilidade, inovação e tecnologia social na Amazônia, com foco na valorização dos saberes ancestrais e no fortalecimento de políticas públicas que promovam o desenvolvimento sustentável na região. Além disso, atua na articulação de iniciativas acadêmicas e comunitárias que ampliam a participação das populações amazônidas na produção do conhecimento.

Maranhão - Ariana Gomes - Quebradeira de coco babaçu, assistente social e mestre em Cartografia Social e Política da Amazônia pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Sua pesquisa documenta e analisa as lutas e resistências das quebradeiras de coco indígenas Akroá Gamella em Viana, Maranhão, destacando a importância da demarcação dos territórios tradicionais e da preservação dos modos de vida dessas comunidades. Ariana utiliza a ciência como ferramenta de fortalecimento da identidade cultural e dos direitos socioambientais das mulheres que desempenham um papel essencial na proteção da biodiversidade local.

Mato Grosso - Rafaella Teles Arantes - Professora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), no Campus de Sinop, é doutora em Fisiologia Vegetal pela ESALQ/USP, com período sanduíche no Instituto Valenciano de Investigaciones Agrarias, na Espanha. Lidera o grupo de pesquisa "Agricultura Familiar, Agroecologia e Agricultura Orgânica em Mato Grosso" e coordena o Projeto Gaia – Rede de Cooperação para a Sustentabilidade, que apoia a produção de alimentos em sistemas agroecológicos e orgânicos junto à agricultura familiar. Atua nas áreas de agroecologia, sistemas agroflorestais, segurança alimentar e sustentabilidade.

Tocantins - Etiene Fabbrin - Doutora em Ciências pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), professora da Universidade Federal do Tocantins (UFT). Atua na área de paleobotânica, ensino de paleontologia e formação de professores, contribuindo para a valorização da história natural da Amazônia. Suas pesquisas envolvem o estudo de fósseis vegetais da região, ajudando a reconstruir a paisagem e o clima do passado amazônico, além de desenvolver materiais didáticos para a educação científica.

Rondônia - Adriana Cristina Nunes - Professora e pesquisadora da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), com atuação na área de biotecnologia e microbiologia. Investiga microrganismos com potencial biotecnológico na Amazônia, explorando suas aplicações na saúde, agricultura e indústria. Seu trabalho busca alternativas sustentáveis para o desenvolvimento de bioinsumos e bioprodutos que possam beneficiar comunidades locais e fortalecer a bioeconomia amazônica.

Roraima - Ise de Goreth - Doutora em Ciências Biológicas e professora da Universidade Federal de Roraima (UFRR). Pesquisa a flora roraimense, catalogando plantas medicinais utilizadas por comunidades indígenas. Seu trabalho é essencial para a valorização dos conhecimentos tradicionais e para o desenvolvimento de novos produtos fitoterápicos, promovendo a conservação da biodiversidade e o uso sustentável dos recursos naturais.

Pará - Ana Luisa Fares - Pesquisadora da Universidade Federal do Pará (UFPA), atua nas áreas de engenharias e ciências ambientais, com foco em gestão e conservação dos recursos hídricos na Amazônia. Suas pesquisas incluem o desenvolvimento de tecnologias para o tratamento e reaproveitamento de águas, além de soluções sustentáveis para o abastecimento de comunidades ribeirinhas. Trabalha na interseção entre inovação tecnológica e preservação ambiental, contribuindo para políticas públicas e práticas mais sustentáveis na região.

Amapá - Amanda Alves Fecury - Bióloga e doutora em Ecologia, especialista em ecossistemas aquáticos e nos impactos ambientais que afetam os rios amazônicos. Suas pesquisas envolvem a preservação da biodiversidade aquática e o monitoramento dos efeitos das mudanças climáticas sobre os recursos hídricos. Além do trabalho científico, Amanda atua diretamente com comunidades ribeirinhas, desenvolvendo projetos de educação ambiental e promovendo práticas sustentáveis para a conservação dos rios e da vida que depende deles.

Acre - Gleiciane de Oliveira - Cientista social pela Universidade Federal do Acre (UFAC) e mestranda em Sociologia na Universidade Federal Fluminense (UFF). Pesquisa os impactos da pandemia de COVID-19 em comunidades quilombolas na Amazônia brasileira. Integra o Grupo de Pesquisa Mundos do Trabalho na Amazônia (GPMTA-CNPq-UFAC), com foco em sociologia do trabalho, risco e interseccionalidades de gênero, raça/etnia e classe. Atuou como pesquisadora assistente no projeto internacional MAP-Fire e como consultora no Fundo de Populações das Nações Unidas. Atualmente, colabora com o projeto plurinacional "Voices of Recovery", que investiga os efeitos da pandemia em quilombolas no Pará.