Por Fabrício Queiroz, com revisão e edição de Daniel Nardin. Fotos de Filipe Bispo
No início do mês, durante a Conferência Amazônia e Novas Economias, realizada em Belém, a ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira destacou em entrevista ao Amazônia Vox o quanto o negacionismo climático prejudica a implementação de políticas públicas para o enfrentamento das mudanças climáticas. Nesta terça-feira (19), o governo brasileiro, a Organização das Nações Unidas (ONU) e a UNESCO lançaram a Iniciativa Global para Integridade da Informação sobre Mudanças do Clima, como uma estratégia de ação para fortalecer pesquisas e medidas que possam combater a desinformação que contribui para atrasar e inviabilizar ações climáticas.
Veja aqui matéria no site da ONU sobre a iniciativa
Atualmente co-presidente do Painel Internacional de Recursos (IRP), um Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) dedicado à produção de conhecimento sobre questões críticas relacionadas aos recursos naturais e ao alcance dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), Izabella destacou os pontos que devem ser observados para ações no sentido de enfrentar a desinformação, inclusive convocando responsáveis por empresas de big techs, as companhias que controlam plataformas de busca e de redes sociais.
“O negacionismo passa pela desinformação. Existe um grande envolvimento das big techs, da mesma maneira que no caso das vacinas”, afirma, relembrando o impacto que as fake news tiveram no combate à pandemia de Covid 19. Sobre as mudanças climáticas, Izabella destaca que a realidade já demonstrado na vida cotidiana o que era previsto pelo conhecimento científico.
“O que se esperava que fosse acontecer no final do século já começa a acontecer agora. Com o aumento da temperatura em mais de 1,5ºC, nós estaremos expostos cada vez mais. Se as pessoas não querem se convencer pela ciência e pela argumentação, a natureza está vindo para mostrar que está mudando e isso estará cada vez mais frequente em certa magnitude”, aponta Izabela.
Para ela, o enfrentamento da questão envolve um exercício de liberdade, mas que deve considerar a responsabilidade no tratamento das informações. “Trata-se de uma escolha. O Brasil, como nós somos um país democrático, trata-se de uma escolha dos brasileiros. Se informe por quem fala a verdade e não por aqueles que querem se beneficiar de informações falsas. Quando você está tratando de vidas das pessoas, condição de vida, proteção das pessoas, não se deve brincar com isso”, alerta.
Na contramão dessa perspectiva, o que prevalece atualmente é uma concepção de liberdade que representa, segundo Izabella, um “privilégio de viver na ignorância”. O impacto disso é o aumento dos riscos ligados aos eventos extremos que tendem a amplificar crises envolvendo os chamados refugiados climáticos, assim como do acirramento político pautado pela agenda climática. “Se as pessoas não querem usar o argumento científico porque vivem no privilégio da ignorância, é um privilégio de parte da população que quer ser ignorante; tem o outro lado que a natureza vai mostrar e está mostrando com as secas acontecendo, com perdas. O custo de não agir é muito mais alto do que o custo de agir politicamente. E a natureza não só se vinga de nós… a gente pode tentar matá-la, mas ela vai matar a gente antes”, argumenta.
Apesar de o Brasil refletir articulações e conflitos que se dão também em todo o mundo, Izabella Teixeira vê que o que país tem como enfrentar a emergência climática com uma estratégia propositiva e de liderança, considerando tanto as soluções desenvolvidas aqui para a pauta do desenvolvimento sustentável quanto às oportunidades que tem de direcionar os esforços das principais nações a partir da presidência do G20, dos BRICs em 2025 e da COP30 em Belém no próximo ano.
“Com essas conferências, esse movimento internacional todo acontecendo no Brasil neste ano e ano que vem, eu acho que é uma grande oportunidade de entender melhor as demandas da sociedade, saber se comunicar melhor, mobilizar melhor, ouvir mais e não adotar a trajetória da ignorância e da exclusão”, reflete.