Demanda por transição energética cria novas tensões geopolíticas

07/11/2024 12:33

Texto: Fabrício Queiroz, com edição de Alice Martins Morais

Fotos: Filipe Bispo

A descarbonização da economia tem impulsionado os setores público e privado a buscar soluções para reduzir as emissões e ampliar a matriz energética em bases sustentáveis. Nesse cenário, os chamados minerais críticos, como lítio, níquel e cobre, se tornaram decisivos para a criação de tecnologias menos poluentes. No entanto, as reservas desses recursos são restritas e têm impacto direto na meta de transição.

Primeiro diretor da Agência Nacional de Petróleo (ANP) e doutor em Economia da Energia, David Zylbersrajn destaca que os rumos da transição energética conduzem à eletrificação que necessita desses minerais, cuja concentração se dá em países como a China e o Congo.


A iniciativa de jornalismo Amazônia Vox realiza nesta semana sua primeira cobertura presencial e em tempo real. Contando com uma equipe de doze profissionais, serão destacados os principais pontos e debates dos painéis durante a II Conferência Internacional Amazônia e Novas Economias. Acompanhe a cobertura completa aqui.


De acordo com o especialista, a tendência é que essas nações formem um grupo de “mineralopaíses”, a exemplo dos petropaíses organizador em torno da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), com potencial de se solidificar como uma nova força na geopolítica mundial.

“Esse é um novo desafio mundial. Vamos criar um nome novo para essa situação que é a questão da concentração dos minérios. Então, o desafio vai para além da tecnologia e vai envolver tensões geopolíticas extremamente relevantes por causa desses minerais”, avaliou Zylbersrajn durante sua participação na Conferência Amazônia e Novas Economias.

Com a mineração como uma atividade de relevância para a economia nacional, o Brasil pode ter um papel estratégico nesse novo cenário que se desenha. Para Mônica César, gerente de assuntos corporativos Atlântico Sul da Vale Metais Básicos, o país precisa valorizar a sua matriz energética limpa como diferencial competitivo e apostar em tecnologia, inovação e integração de políticas estratégicas para acelerar a agenda de transição.

“Os órgãos reguladores precisam estar melhor equipados para dar a celeridade necessária aos processos de licenciamento dos projetos de transição energética”, pontuou Mônica César, que ressaltou ainda a importância das empresas e dos investimentos privados para a pauta.

O papel do setor produtivo, a realidade atual e a demanda futura por energia no planeta e a produção de dados técnicos e científicos para subsidiar as políticas de descarbonização do Brasil também foram destaques do painel “A Visão Nacional e Internacional dos Minerais Estratégicos na Descarbonização da Economia Global”, que contou ainda com a participação do superintendente Adjunto de Estudos Econômicos e Energéticos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Gustavo Naciff; da professora emérita da UFMG e membro do comitê ESG da Sigma Lithium, Maria José Salum; da diretora do Centro de Tecnologia Mineral (CETEM), Silvia França; e de Rafaela Guedes, senior fellow do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).

“A demanda de minerais para a transição já é uma realidade. Claro que se espera que isso se intensifique e no horizonte do Brasil isso também vai acontecer”, afirmou Gustavo Nassif, que adiantou que a EPE trabalha atualmente na elaboração do plano decenal de energia, encomendado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) e que o documento terá um capítulo dedicado à sinalização ao governo sobre os minerais necessários para a transição energética.

 

A cobertura especial do Amazônia Vox na Conferência Internacional Amazônia e Novas Economias é um oferecimento da Vale.