UM PROJETO

Aos 20, Lívia já ajudou centenas de jovens a desenvolver habilidades. Com bolsa nos EUA, agora busca apoio para realizar viagem

26/04/2024 09:30

Texto: Daniel Nardin
Foto de arquivo pessoal

Com apenas 20 anos, morando na cidade de Capanema, no interior do Pará, Lívia Silva já contabiliza mais de 500 participantes, entre 13 e 25 anos, nas formações que realizou para incentivar a liderança, autoconhecimento, engajamento e transformação positiva em suas próprias comunidades. Articulou parcerias, buscou apoio e, inquieta, decidiu fazer da construção coletiva sua própria carreira individual. 

Criou, em 2020, o projeto “Levanta jovem”, que como o nome já explica, busca despertar em outros como ela um mundo de oportunidades e possibilidades além da realidade que se vê, muitas vezes desafiadoras, para não dizer desanimadoras.

A primeira jovem a levantar foi ela mesma. Aos 12 anos, entre brincadeiras com amigas, aulas na escola pública, decidiu se voluntariar para ensinar outras crianças na comunidade da igreja que frequenta. Tomou gosto ao perceber que o brilho nos seus olhos que tanto falavam iluminava o olhar e espalhava motivação. Era esse um caminho sem volta. Para seguir adiante, buscou conhecimento e mais inspiração para inspirar outros. 

A internet foi uma aliada de sempre. Navegando por sites, fazendo as buscas certas, encontrou a ficha de inscrição para o programa “Jovens Embaixadores”, realizado no Brasil pela Embaixada dos Estados Unidos. Como diz o jargão popular, não sabendo que era impossível, Lívia foi adiante e completou o cadastro. Achou por bem não comentar com outros, só sua mãe Lilian, e a avó, Maria Luzanira, e sua mentora Daniely Kempfer, sua base de confiança, inspiração e força. “"Elas me ensinaram muito sobre empatia, hospitalidade, sobre o que significa amar e acolher o outro na prática”. 

Aos 15 anos, a tradicional festa de debutante que muitas adolescentes - e seus pais - costumam sonhar - foi simples e em família. Mas, nesse mesmo ano, Lívia se apresentava ao mundo. Passou na seleção e foi uma das brasileiras a passar três semanas nos Estados Unidos. A experiência reforçou sua certeza de que era possível transformar outras vidas através da sua própria e a educação era a principal ferramenta.

“Foi uma experiência que me conectou com outros jovens líderes do Brasil. Aprendi sobre voluntariado, empreendedorismo social e a realidade de um outro país. Foi uma experiência que trouxe uma bagagem e a expansão da minha perspectiva do que poderia fazer com ativismo social”, avalia. 

Ao retornar para sua cidade, foi recebida pelo prefeito, foi festejada na escola, virou notícia. Não se deixou deslumbrar e não parou. Ali era só o começo. Lívia não foi fazer turismo em terras estrangeiras: voltou decidida a criar o projeto “Levanta Jovem”, para que nortistas de sua faixa etária encontrassem oportunidades e percebessem como podem mudar a realidade de suas comunidades.

Com olhar mais crítico, com conhecimento para firmar parcerias, passou a realizar mentorias e formações gratuitas, desenvolvendo habilidades como oratória, trabalho em equipe, elaboração de projetos e negócios sociais. Aos 17 anos, seu trabalho rendeu outro reconhecimento: foi selecionada como jovem transformadora da Ashoka, uma instituição global que apoia e forma lideranças pelo mundo.

Integrando a rede, recebeu novas formações e repassou conhecimento. Conquistou outras conexões. E expandiu ainda mais seu horizonte. “Conheci outros jovens que estavam fazendo coisas incríveis nas suas comunidades. E isso me trouxe esse questionamento. Porque eu fui selecionada? Porque jovens da minha comunidade não poderiam também desenvolver projetos e se engajar em ações sociais? O que estava faltando? Vontade sei que tem. A partir disso, criei o projeto que visa ajudar a desenvolver habilidades e potencial para promover impacto positivo”, argumenta.   

Mesmo com a pandemia, a partir de 2020, o trabalho prosseguiu e com articulação, conseguiu apoiar dezenas de adolescentes a ter internet de qualidade para continuar participando das formações. “Meu sonho é contribuir para que jovens nortistas possam se reconhecer e ser capazes de gerar transformação nas suas comunidades e nos mais diversos ambientes", afirma.

Buscando apoio para novos voos - O projeto prosseguiu e expandiu. Conectada e de olho nas oportunidades, veio a maioridade e, com ela, o desejo de voos mais altos. Desejo não: objetivo. Aos 15 anos, Lívia venceu a barreira do idioma, superou a difícil rotina entre os estudos na escola e as atividades extracurriculares, a dedicação em trabalhos temporários para ajudar em casa e as atividades do “Levanta jovem”. Conseguiu, passando dezenas de madrugadas em claro, concluir a bateria de formulários, documentos e provas até conseguir uma bolsa de graduação em uma universidade americana. 

Lívia Souza possui agora uma bolsa integral para estudar Psicologia e Educação na Universidade de Bowdoin College na cidade de Brunswick em Maine, nos Estados Unidos. Agora, uma outra barreira se ergue à sua frente: conseguir os recursos para a viagem. Iniciou uma “vaquinha” online com objetivo modesto de R$14.000, considerando o traslado para São Paulo, o voo para os Estados Unidos, roupas de frio e as taxas para o visto. Restando pouco menos de 60 dias para atingir sua meta, está com 13% do objetivo conquistado. 

“Estudar em Bowdoin College é a concretização de um sonho e principalmente a oportunidade de inspirar e representar jovens de baixa renda e escolas públicas da Amazônia, mostrando que é possível sim, alcançar seus objetivos”, afirma no texto em que pede apoio.