UM PROJETO

Violeta Loureiro destaca condição da Amazônia como colônia do Brasil e indica caminhos

17/04/2024 11:08

Texto: Laura Guido, com supervisão de Daniel Nardin

Apresentando o seu mais recente livro, “Amazônia: colônia do Brasil”, a autora e pesquisadora sobre desenvolvimento na Amazônia, Violeta Loureiro fez durante um webinar promovido pela LACLIMA, Rede Amazônidas pelo Clima (RAC), Instituto Bem da Amazônia e Amazônia Vox, diversas reflexões sobre os desafios enfrentados pela região e seu papel em relação às mudanças climáticas, num contexto regional, nacional e global. 

O webinar contou com a participação de quase cem pesquisadores, estudantes e interessados na temática amazônida. O vídeo completo está disponível e pode ser acessado neste link. Participaram como mediadores do evento online Ciro Brito, coordenador do GT Amazônia da LACLIMA; Daniel Nardin, diretor do Amazônia Vox e membro do Instituto Bem da Amazônia e Caroline Rocha, co-fundadora da Rede Amazônidas pelo Clima (RAC) e Diretora de Políticas Públicas e Engajamento da LACLIMA. 

O webinar recebeu o mesmo nome do livro lançado por Violeta Loureiro, que aborda questões sociais e históricas da região ao longo das últimas décadas. Ao realizar uma análise contextualizada historicamente sobre o local e a forma que a Amazônia sempre foi retratada em relação ao resto do Brasil, a autora justifica o uso da palavra “colônia”: “Porquê colônia e não dependente? Porque a dependência é algo que não imobiliza completamente, dependência é uma coisa. A nossa situação da Amazônia é de um imobilismo que não permite a possibilidade de fazer algo mais estruturante para deixar essa situação, é algo mais complexo”, destaca a pesquisadora. 

Nesse sentido, a autora argumenta a forma como o Estado brasileiro tem tratado a Amazônia, de maneira a entender as riquezas naturais que a região possui e ter como enfoque apenas a exploração. Assim, ela define o Estado brasileiro como “o maior destruidor” da floresta amazônica, porque, a partir das reflexões da pesquisadora, o Estado age de maneira a “tutelar” a Amazônia, de viabilizando questões estruturais para a entrada de grandes empreendimentos na região, que pautam um desenvolvimento que, em sua abordagem, destrói a natureza e causa impactos sociais ao desconsiderar as populações tradicionais da região. Dessa maneira, o incentivo governamental ao desmatamento para a criação de gado e a construção de hidrelétricas, por exemplo, são, de acordo com Violeta Loureiro, exemplos de como o Governo Federal tutela a Amazônia. 

Sob essa perspectiva, com o crescente desmatamento na região amazônica para a criação de pastos relacionados à pecuária bovina e, posteriormente, para a plantação de soja, impactos diretos são ocasionados na questão climática do planeta, por ser um grande agravante do aquecimento global. 

A pesquisadora vê dificuldades para encontrar caminhos sólidos para mudar a lógica que foi imposta à região. “Acho que o principal é incluir atores locais nas discussões e programas. As populações tradicionais, as urbanas, os centros de pesquisa da região. Mas de uma forma a compreender a riqueza da floresta em pé e a utilização mais inteligente e coerente dos recursos naturais, não para simplesmente explorar, mas consolidar justamente na preservação destes um desenvolvimento social mais efetivo”, considera. 

Sobre a autora - Violeta Loureiro também é autora do clássico "Amazônia: Estado, homem, natureza", tendo a primeira edição publicada em 1992. A professora possui graduação pela Universidade Federal do Pará (1969), mestrado em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas (1985) e doutorado em Sociologia - Universidade de Paris III (1994). Atualmente é professora voluntária da Universidade Federal do Pará. Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Metodologia das Ciências Sociais, atuando principalmente nos seguintes temas: Amazônia, desenvolvimento, direitos humanos, sociologia jurídica e educação.